Só altera o alimento quem é superior a ele. A autoridade intelecto-moral será concedida àquele que a ela fizer jus em sua vida cotidiana. Jamais avançaremos no caminho traçado pela lei de evolução, com segurança e valor, violando as leis de afinidade e de permuta (auxílio mútuo)

A solidariedade que rege a cadeia alimentar, citada por Joanna de Ângelis e por Deepak Chopra, mostra-nos o respeito e a gratidão que devemos à vida em todas as suas frequências de manifestação. Por essa razão, ressaltamos a atualidade do Mestre Jesus ao ensinar que não é o que entra pela boca que torna o homem imundo, mas sim o seu comportamento em desacordo com as leis que regem a vida e, consequentemente, com a cadeia alimentar. Quando assumirmos, responsavelmente, a participação nessa cadeia, transformar-nos-emos em caminho, verdade e vida para os menos experientes.

Em se tratando de alimentação consciente e de cadeia alimentar, de acordo com a naturalidade da Lei, não há fins trágicos e sim transformação, incorporação e vida. Na verdade, não acontece nada de dramático com o alimento: "É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar. O que chamais destruição é apenas transformação que tem por objetivo a renovação e o melhoramento dos seres vivos" (728LE). Joanna de Ângelis assinala: "O grão que se permite triturar é a gratidão que nele se encontra para se transformar em pão e em dádiva de manutenção da vida.""[1]

O Eterno Alimento é Deus. Jesus já nos dissera: Eu sou o pão da vida, comei, este é o meu corpo. Se beberdes da minha água, jamais tereis sede. Vós sois o sal da terra, e sereis a luz do mundo. Ele não veio derrogar a Lei, mas dar-lhe cumprimento e despertar a humanidade para a consciência desses ensinamentos milenares:

O alimento é Brama - Rig Veda

Do alimento nascem todas as criaturas, que vivem do alimento e, depois da morte, retornam ao alimento. O alimento comanda todas as coisas. É o remédio para todos os males do corpo. (Rig Veda - Taittiraya Upanishad)

No momento, levando em consideração que a maioria das pessoas quer ter saúde perfeita, mas não sabe como ativar a inteligência interior, farei algumas observações genéricas sobre alimentação.

Todos os pontos enumerados abaixo têm uma coisa em comum: gradualmente preparam corpo e mente para se unirem num fluxo de inteligência.

1. Preste atenção aos alimentos.

2. Pare por um momento diante da comida e fique em silêncio, de modo que a consciência absorva a refeição com tranquilidade.

3. Coma quando tiver fome; não coma se não tiver fome.

4. Abstenha-se de comer se estiver contrariado, seu corpo estará melhor assim.

5. Coma devagar, mastigando bem os alimentos.

6. Usufrua da companhia e elogie o cozinheiro.

7. Evite comer na companhia de pessoas que o perturbam e, na medida do possível, faça as refeições com amigos e membros da família.

O homem sempre teve por postura agradecer - quase reverenciar - o alimento que recebe. Esse sempre foi um sinal de que a espécie respeita os laços que a unem à natureza e a natureza corresponde alimentando-o bem.[2]

Planejemos a ação, desmembrando cada item citado por Deepak Chopra.

As incontáveis formas e seres que vivem, existem e se movem no oceano cósmico, nasceram da força e da substância componentes dos alimentos. Todos os alimentos, sem exceção, nasceram do espírito. Analisando por este prisma, podemos dizer que todo alimento é proveniente do Amor, isto é, do Psiquismo Divino exteriorizado. No sentido profundo do termo, o Alimento absoluto é Deus.

Reflitamos:

1. O que é prestar atenção aos alimentos?

Vendo a Obra em forma de alimento, vê-se Deus. A energia condensada é a mais simples manifestação do Seu Amor. Observando o Amor manifestado em forma de alimento, pode-se sentir e compreender a essência e a grandeza de Sua bondade. Percebe-se que o micro contém o macro e tudo é cópia de tudo

O alimento que se apresenta como candidato a fazer parte integrante do nosso cenário espera ouvir nossa proposta de trabalho, antes de ser triturado e ingerido pura e simplesmente. Essa força composta de inumeráveis substâncias da Natureza deseja saber qual é a tarefa que temos para ela em nosso universo. Criaremos, então, terna e amorosamente, segundo as nossas necessidades psicofísicas e espirituais, a imagem representativa da real intenção.

Antes de desejar a saúde integral, reflitamos no porquê de estar almejando a harmonia em nosso universo; imaginemos como será o nosso comportamento após a alimentação e a reorganização da saúde.

2. O que significa parar, por um momento, diante da comida e ficar em silêncio, de modo que a consciência absorva a refeição com tranquilidade?

Podemos nos alimentar sem precisar triturar e ingerir os alimentos, fazendo-o pela mente, pelos olhos e demais sentidos, dispensando o Sistema Digestivo. A possibilidade da alimentação por meio da consciência é formidável. Antes da ingestão dos alimentos, temos a oportunidade de acessar a essência da consciência dos mesmos e absorvê-la diretamente, sem matar a forma.

Como faremos isso? Vimos, com Emmanuel, que imaginar é criar. Deste modo, podemos criar esses nutrientes em forma de alimentos, auxiliados pela vasta rede de potenciais de progresso e sublimação, existente em nossa mente. A ação da consciência, na alteração da matéria mental, regida pelo amor, como lei de atração, é evidente. Criar esses elementos promotores da saúde integral e combiná-los com os nutrientes psíquicos existentes nos alimentos que se encontram à mesa significa exercer o nosso papel de cocriadores conscientes, ante essa fonte inesgotável - interna e externa, à nossa disposição.

Ao imaginarmos que estamos nos alimentando de fato, todo esse universo se coloca em plena ação. O nosso universo interno fornece todas as substâncias essenciais à construção do projeto almejado. De forma simultânea, congregam-se à fonte externa, a matéria mental e a essência dos alimentos, na concretização da meta. Quando dizemos fonte externa, trata-se de tudo o que advém do meio externo, isto é, a força e a substância de todos os reinos somados, incluindo as dos reinos naturais.

Quando visualizamos a concretização de tudo o que gostaríamos que se tornasse realidade em nosso universo, os fins, segundo as nossas necessidades reais, abrangendo desde o físico ao ser espiritual (fortalecimento, resistência, agilidade, leveza, delicadeza, beleza, gentileza, paciência, compaixão, ética, enfim, os valores intelecto-morais), o cosmos interno e o externo iniciam, de imediato, a sua construção.

Imaginemos o ser ideal. Após criar a imagem mental, visualizemos esta imagem sendo fotografada e imediatamente telegrafada ao universo interno e externo, simultaneamente.

Busquemos sentir a interação conjunta entre todos os componentes desses universos e, consequentemente, a ação sendo executada imediatamente após a ordem expedida.

Hermínio Miranda esclarece-nos, em Nossos Filhos são Espíritos (cap. 11), quanto à existência desse mecanismo de comunicação não verbalizada:

[...] existe na natureza um nível primevo de comunicação, anterior ao da palavra, independente dela, uma espécie de canal através do qual todos os seres vivos - das plantas aos seres humanos, passando pelos animais ditos irracionais - podem entender-se. A comunicação, portanto, não dependeria das palavras e, sim, dos sentimentos que estão (ou não) por trás da mera expressão vocabular.

Miramez reafirma o pensamento do mestre Hermínio C. Miranda e fortalece as possibilidades do diálogo entre as consciências multiformes:

[...] A comunicação existe em toda parte; Voltando para dentro de nós, observamos uma consciência instintiva, que é parte da consciência profunda em comando aos órgãos, materiais e espirituais, e que pode receber ordens igualmente da consciência ativa (grifo nosso).[3]

Hermínio Miranda retoma algumas reflexões de Annie Besant em torno da comunicação não verbalizada: Consciência e vida são idênticas, dois nomes para uma só coisa quando considerada de dentro ou de fora. Não há vida sem consciência; não há consciência sem vida.[4]

Afirmações abalizadas de Miramez, Emmanuel e Joanna de Ângelis, respectivamente,orientam o nosso proceder para alcançar o fim almejado:

Se queres harmonizar teus órgãos em decadência, fala com eles, pede à consciência que os comanda o que desejas de saúde, de bem-estar. Saber pedir é um passo no caminho de receber. Até as células entendem a vontade da mente; elas são vivas e obedientes.[5]

Consagra-te à própria cura, mas não esqueças a pregação do Reino Divino aos teus órgãos.

Eles são vivos e educáveis. Sem que teu pensamento se purifique e sem que a tua vontade comande o barco do organismo para o bem, a intervenção dos remédios humanos não passará de medida em trânsito para a inutilidade.[6]

Conversar, terna e bondosamente, com as imperfeições morais, alterando-lhes o curso; buscar penetrar no intrincado meandro dos conjuntos celulares e envolvê-los em vibrações de amor; estimular os órgãos com deficiência de funcionamento, ou perturbação enfermiça, a que voltem à normalidade, são métodos de comando da energia espiritual do Eu superior, interferindo nas complexidades da força mantenedora do perispírito e da matéria, alterando-lhes para melhor a movimentação (grifo nosso).[7]

Essa tarefa deverá começar na sublimação dos sentimentos, na qualificação superior das emoções, na elevação moral dos pensamentos, até tornar-se um condicionamento correto que exteriorize ações equilibradas em consonância com a ética do bem, do dever e do progresso.[8]

Imprescindível repetir o exercício até sentir em si os efeitos da ação benfeitora, sem esquecer que tudo vive, sente e pensa na dimensão que lhe é própria, sob a regência do Amor incondicional.

3. Coma quando tiver fome; caso contrário, não o faça.

Na maioria das vezes, a fome é uma necessidade ilusória. Sabendo disso, deliberemos comer apenas o que realmente necessitamos. O ato de alimentar-se deve revelar uma postura responsável porque estamos assumindo um sério compromisso com todos os seres que se deixaram perecer para que tenhamos vida.

Aprendemos com três mestres, respectivamente, que a soberania da alma está vinculada ao aprimoramento das emoções (Emmanuel), que a sublimação das emoções se alia à disciplina da respiração (Yogananda) e, por fim, que o ar é um medianeiro de qualidades indescritíveis, carreando as forças cósmicas para essa realização (Miramez).

Portanto, quando a fome surgir, em momentos impróprios, comece a respirar calma e profundamente, concentrando a atenção no objetivo almejado. Lembre-se do ar como um ser vivo, sensível às suas emoções, e transforme-o em alimento, em medicamento, em qualquer substância que supra as suas necessidades. Se encontrar dificuldade nessa mentalização, sorva um copo d'água, mastigando-a, como o faria se estivesse ingerindo o alimento de sua preferência.

Faça o mesmo com a luz e os demais elementos da Natureza.

4. Abstenha-se de comer se estiver contrariado, seu corpo estará melhor assim.

O ser humano precisa mais de harmonia na mente do que alimento no estômago. Na Terra, esta predominando a desarmonia em tudo, tanto quanto no mundo mental das criaturas, e é esse estado negativo que leva o homem ao desespero, à fome, à guerra e aos desastres morais (grifo nosso).[9]

Tudo o que se integra ao nosso universo se transformará à nossa imagem e semelhança. Por isso, se não estivermos com a mente em harmonia e a consciência em paz, convém não nos alimentarmos fisicamente. Isso não significa privarmo-nos da alimentação espiritual ou mental: busque em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça e o resto lhe será acrescentado.

Façamos uma oração, um exame de consciência. Reconsideremos e relevemos a situação menos feliz e recomecemos, sem maiores perturbações, a tarefa momentaneamente interrompida.

5. Coma devagar, mastigando bem os alimentos.

Cada alimento guarda dentro de si uma fonte de energia. Para extrair e aproveitar ao máximo essa força de trabalho, faz-se imprescindível conceber, no momento das refeições, as condições mentais, emotivas e espirituais favoráveis ao ato e incorporá-las ao alimento, como mensageiras orientadoras, estimuladoras e encorajadoras da ação. Esses agentes neuropsíquicos e neuroquímicos são essenciais para o êxito de qualquer desempenho no universo psicofísico. Mais conhecidos como neurotransmissores, neuropeptídios, enzimas, aminoácidos, ou seja, hormônios de variada ordem, são incumbidos de gerenciar a quase totalidade das atividades orgânicas.

Sempre que possível, mantenha a postura e a imagem criada inicialmente. A repetição da tela mental facilitará a assimilação da energia para a execução da proposta almejada e a promoção de todos os elementos envolvidos.

6. Usufrua da companhia e elogie o cozinheiro.

A gratidão, a alegria e a esperança são indispensáveis nesse processo. Não se trata de agradecer, tão somente, a todos os que contribuíram de forma direta ou indireta para que o alimento chegasse à mesa. Mais que isso, trata-se do compromisso assumido, perante a Lei, de promover os nutrientes assimilados por meio de uma vivência condizente com as aspirações que acalentamos, tornando-os partes integrantes de nossa consciência. Cada pensamento emitido, cada emoção exteriorizada, cada sentimento manifestado, cada palavra proferida e cada ação levada a efeito, antes, durante e após a escolha, o preparo e a assimilação dos alimentos, transformá-los-ão à semelhança do teor desses conteúdos, expressados na vida de relação.

A alegria antes, durante e após o repasto fará com que as células se tornem mais receptivas, assim favorecendo a assimilação dos elementos (nutrientes e mensageiros psicoeletroquímicos) restauradores e mantenedores de nossa saúde.

A esperança é importantíssima nesse cenário, por se tratar de uma fonte geratriz de imensuráveis recursos. Em outras palavras, a esperança revitaliza a ação, gerando hormônios (unidades organizadoras) e princípios vitais (recursos imprescindíveis ao êxito).

O exercício destas três virtudes, a alegria de viver, a gratidão pela vida e a esperança nas melhorias aliadas, fortalece, em milhares de vezes, a capacidade defensiva de nosso sistema imunológico. Vale a pena exercitá-las diuturnamente.

7. Evite comer na companhia de pessoas que o perturbam e, na medida do possível, faça as refeições com amigos e membros da família.

Sobremaneira importantes são o preparo do alimento, a harmonia no ambiente e as companhias, para não comprometermos o resultado benéfico proporcionado pelos elementos harmoniosos, advindos do universo da alimentação.

O momento da refeição é sagrado, estando ou não em família. Não deve ser perturbado por assuntos contrários ao benefício almejado. Será melhor manter silêncio absoluto a perturbar o ambiente com palavras vãs ou sem conteúdos propiciadores de paz e de reconciliação.

Sebastião Camargo - do livro, O Despertar da Consciência, do átomo ao anjo, cap. 10, item 2 (A manutenção da saúde por meio da alimentação)

[1]? FRANCO, D. P.; JOANNA DE Ângelis (Espírito). A gratidão como roteiro de vida. In: Psicologiada Gratidão. cap. 5.

[2]?Chopra, D. Dieta e destino. In: Conexão Saúde. cap. 26..

[3]? MAIA, J. N.;MIRAMEZ (Espírito). Estudando a Natureza. In: Força Soberana. cap. 18.

[4]? Miranda, H. C. Em busca de um psiquismo na matéria: O dentro e o fora das coisas e dos seres vivos. In:Alquimia da Mente. cap. 3, item 2.

[5]? MAIA, J. N.;MIRAMEZ (Espírito). Estudando a Natureza. In: Força Soberana. cap. 18.

[6]? XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). Socorre a ti mesmo. In: Pão Nosso. cap. 51.

[7]? FRANCO, D. P.; JOANNA DE Ângelis (Espírito). O ser real: Complexidades da energia. In: Auto descobrimento: Uma busca interior. cap. 1.

[8]? FRANCO, D. P.; Joanna de ÂNGELIS (Espírito). Consciência e vida: Exame do sofrimento. In: Autodescobrimento: uma busca interior. cap. 3.

[9]? MAIA, J. N.;MIRAMEZ (Espírito). Estudando a Natureza. In: Força Soberana. cap. 18.